... Tradução - Aqui ...
Alda Lara com o marido, médico e escritor,
e os filhos Pedro, João e Luís
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Já referi que Alda Lara frequentou a Casa dos Estudantes do Império
em Lisboa, animando saraus e tertúlias, sendo excelente declamadora.
Quando começaram a proliferar os primeiros ideais de guerrilha,
que repugnavam a poetisa, mudou-se com o marido para Coimbra.
Não conheço a base real deste poema, mas tendo-os conhecido
tão bem, tenho a certeza que estes «abutres» referem-se aos agentes
da polícia de defesa do estado, durante a ditadura fascista.
~~~ Meu Bergantim ~~~
Meu bergantim, onde vens,
Que não te posso avistar?
Bergantim! Meu bergantim!
Quero partir rumo ao mar...
~~~
Tenho pressa! Tenho pressa!
Já vejo abutres voando
Além, por cima de mim...
Tenho medo... Tenho medo
de me não chegar ao fim.
Meus braços estão torcidos,
Minha boca foi rasgada.
Mas os olhos, estão bem vivos,
E esperam, presos ao Céu...
~~~
Que haverá p'ra além da noite?
Para além da noite de breu?
Ah! Bergantim, como tardas...
Não vês meu corpo jazendo
Na praia, do mar esquecido?...
Esse mar que eu quis viver
E sacudir e beijar,
Sem ondas mansas cobrindo-o...
~~~
Que vai ficando bem tarde!
E eu não me quero acabar,
Sem ver o que há para além
Deste grande, imenso céu
E desta noite de breu...
Não quero morrer serena
Em cada hora que passa
Sem conseguir avistar-te...
Com o meu olhar enxergando
Apenas a noite escura,
E as aves negras, voando...
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Gosto de Alda Lara, e a seu poema "Interlúdio" cantado pelo Paulo de Carvalho é um dos mais belos que conheço dela.
ResponderEliminarEste também é belo.
Gostei muito da interpretação.
Uma belissima Postagem.
Boa semana.
beijinhos
:)
Prelúdio
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas...
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.
... Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra...
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaços,
bem quieta, bem calada...
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada...
Autor :Alda Lara
Olá, Majo!
ResponderEliminarNesta sua postagem conheci Alda Lara e o poema "Meu Bergantim", de autoria da poetisa. Sem dúvida, um belo poema. Parabéns.
Um abraço.
Pedro
A Alda em seu mais profundo canto de tristeza e indignação diante um regime perverso.
ResponderEliminarA poesia intra-historia para fazer entender o que se faz em detrimento da vida humana.
Não se concebe e os intelectuais sofrem e expõem de maneira sutil seu descontentamento diante este cálice tinto de sangue, como bem o fez por aqui o Chico Buarque.Driblando a censura boba e tola.
Bela partilha Majo é preciso divulgar o berço com toda sua historia marcada pela violência, discriminação repugnante.
Meu carinhoso abraço de toda paz.
Que você esteja bem mesmo.
Beijos
Bom dia minha amiga.
ResponderEliminarPasso para te ler e dar os bons dias .
Sem tempo para outras coisas que não sejam as da infância.
Saude e dia bom.
Ana
Traz-nos mais uma vez Alda Lara. Gosto muito da poesia que ela escreveu. Interessante tê-la conhecido pessoalmente bem com à família. Assim os laços são mais fortes.
ResponderEliminarUm beijo, minha Amiga Majo.
Excelente postagem, esta!!
ResponderEliminarBeijinhos e um dia feliz
Grata por mais uma partilha cultural. A poetisa merece!
ResponderEliminarUm beijinho
"Conheço" Alda Lara e foi muito bom encontrá-la aqui neste belo post,
ResponderEliminartendo o prazer de reler os seus belos e interventivos versos.
Obrigada, Majo.
Bj
Olinda
os poetas deixam transbordar nas palavras por decifrar as dores que vão na alma.
ResponderEliminarbjs
Foi bom lembrar de novo Alda Lara. Partiu muito nova, mas a sua obra fica para sempre!
ResponderEliminarAbraço,
A grande poetisa se desnuda em indignação e dor derramadas com peculiar beleza nos versos deste fabuloso poema. Magnífica partilha, Majo
ResponderEliminarBeijos minha estimada amiga
Mais um delicioso apontamento sobre Alda Lara.
ResponderEliminarEste belo poema, além da sua natureza interventiva, tem um ritmo (e métrica) que se adequaria muito bem a uma canção.
Grata pela partilha. Bjinho
Lindo este poema de Alda Lara que não conhecia, aliás, conheço muito pouco sobre ela e aqui me deixas mais uma oportunidade de enriquecimento levando-me a pesquisar sobre esta grande Senhor. E muito bom quando os blogs nos permitem saber algo mais ou recordar assuntos já esquecidos. Muito obrigada, querida amiga e que os teus dias sejam repletos de momentos felizes. Um beijinho
ResponderEliminarEmilia
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ResponderEliminarA VOSSA COLABORAÇÃO E DEDICAÇÃO PROVA QUE TENDES
UMA APURADA SENSIBILIDADE POÉTICA.
GRATA PELO APOIO E INCENTIVO.
ABRAÇOS
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Quem sabe se a nostalgia da terra quente distante com um mar, real e figurado, a interpor-se no sonho da poeta.
ResponderEliminarBelíssima publicação, Majo.