Quis fazer um 'post' sobre a neve que atormenta o norte e interior do país. Entre muitas,
escolhi as fotos pretendidas, coloquei-as com a harmonia possível, procurei boa música
tradicional portuguesa e só então pesquisei poemas de renomados escritores portugueses.
E ''cadê?'' -- que é feito deles?!... Não há!... A neve não inspira os nossos grandes Poetas!
Além dum registo em que Torga na Estrela, compara a neve a uma toalha (estaria à mesa)
resta-nos a Balada de Neve. Augusto Gil é um poeta esquecido e ainda é este poema em
redondilha, que o mantém vivo, apesar dos últimos quintetos nos remeterem ao fadinho.
~~ BALADA DE NEVE ~~
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
❄️
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
❄️
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
... Clique ...
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
❄️
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
❄️ ❄️ ❄️
Augusto Gil
~~ 1873 -- 1929 ~~
... Com influências do parnasianismo e simbolismo ...

* Fotos recentes do norte do país, publicadas por jornais nacionais *
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