Nasceu em 1901, na então antiga, «Mui Notável» e ilustre vila da Praia «da Victória», da Ilha Terceira.
Parte para estudar em Coimbra, onde casou-se em 1926 com uma faialense; visita as ilhas e conserva muito vincado um sentimento especialíssimo a que chamou
~~ A ç o r i a n i d a de ~~
Faleceu na capital, em 1978, apaixonado por Margarida Victória, uma 'princesinha' natural da Ilha de S Miguel.
~~ Navio ~~
Tenho a carne dorida
Do pousar de algumas aves
Que não sei de onde são;
Só sei que gostam de vida
Picada em meu coração.
Quando vêm, vêm suaves
Partindo, tão gordas vão!
Como eu gosto de estar
Aqui na minha janela
A dar miolos às aves!
Ponho-me a olhar para o mar:
- Olha um navio sem rumo!
E, de vê-lo, dá-lho a vela,
Ou sejam os meus cílios tristes:
A ave e a nave, em resumo,
Aqui, na minha janela.
Nem Toda a Noite a Vida - 1953
~~ A Concha ~~
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência
Fachada de marés, a sonhos e lixo,
O horto e os muros só areia e ausência
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta o vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço
Sentado numa pedra de memória.
O Bicho Harmonioso - 1938
O horto e os muros só areia e ausência
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta o vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço
Sentado numa pedra de memória.
O Bicho Harmonioso - 1938
A 'Mui Notável' cidade da Praia da Victória
«A geografia, para nós, vale outro tanto como a história...
Como as sereias, temos uma dupla natureza: somos de carne e de pedra.
Os nossos ossos mergulham no mar...
Um dia, se me puder fechar entre as quatro paredes da Terceira, sem obrigações
com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre
a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba...»
O destino quis que tarde se apaixonasse, não possibilitando a concretização deste sonho
antigo, já expresso em 1932
Como as sereias, temos uma dupla natureza: somos de carne e de pedra.
Os nossos ossos mergulham no mar...
Um dia, se me puder fechar entre as quatro paredes da Terceira, sem obrigações
com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre
a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba...»
O destino quis que tarde se apaixonasse, não possibilitando a concretização deste sonho
antigo, já expresso em 1932
Gosto muito deste escritor e em pequena lembro-me de ver o programa que tinha na televisão com a famosa frase "se bem me lembro..."
ResponderEliminarbeijinhos
É sempre bom conhecer novas culturas e, principalmente, novos escritores. Gostei muito das palavras deste escritor. Obrigada por compartilhar essa preciosidade para todos nós. Beijinhos.
ResponderEliminarVitorino Nemésio foi uma pessoa invulgar. A sua poesia é, ao mesmo tempo de grande profundidade e de grande delicadeza. O seu livro "Mau tempo no Canal" é surpreendente. Que bom, Majo, ler estes poemas neste seu espaço! As imagens dos Açores são sempre mágicas...
ResponderEliminarUm beijo e bom fim de semana.
Vitorino Nemésio é uma figura incontornável "Se bem me lembro"... de que sempre me lembro! Tinha um estilo inconfundível. Tive o privilégio de visitar a casa onde nasceu, na Ilha Terceira. Ao subir para o barco que nos levou do Faial para o Pico, recordei o seu romance inspirado nestas aguas "Mau Tempo no Canal".
ResponderEliminarBfds.
Bjo.
Não deixemos morrer os nossos mortos
ResponderEliminarBela partilha
Bj
✿⊰ه° ·.
ResponderEliminarMuito lindo, exaltação a linda Ilha Terceira!...
Ótimo fim de semana!
Beijinhos.
⎝✿⊰ه° ·.
Amiga Majo, só agora vim à net, mas vejo com satisfação que o "problema" com este post está resolvido.
ResponderEliminarEscolheste um poeta que admiro imenso, pela profundidade do seu saber e amor ao Açores que se reflecte na sua maravilhosa obra.
Também me lembro bem do "Se bem me lembro" :)
Um beijinho grato por mais uma maravilhosa partilha
Muito bonito e sentimentos à mostra... Gostei muito do poema das aves, tocou-me.
ResponderEliminarProcurarei mais sobre esse poeta.
Obrigada por trazê-lo ao meu conhecimento, Majo.
Beijo, querida amiga.
Dos Açores, apenas conheço São Miguel.
ResponderEliminarMuito bom, ler aqui Vitorino Nemésio.
:)
Recordar é viver, diria o Vitorino Nemésio do "Se bem me lembro". Lembrá-lo como um poeta e uma personalidade de excepção, é mais um serviço prestado pela Majo aos seu seguidores. Bem haja!
ResponderEliminarAdorei recordar este autor... que o meu pai apreciava tanto...
ResponderEliminarUm post que me trouxe gratas recordações, Majo!
Passando por aqui, mais esporadicamente, do que o habitual, pois enquanto estiver na Ericeira, a minha Net tem alguns condicionalismos... aliás o acesso à mesma até estará a acabar a qualquer momento... espero tê-la de volta no inicio da próxima semana... mas o carregamento tem sido sempre problemático... esperemos que desta vez seja a excepção... e consiga ter Net em breve, sem problemas de maior, durante a próxima semana...
Beijinhos! Bom domingo...
E aproveitando... enquanto a Net permite... a espreitar alguns dos seus posts mais recentes...
Ana
Recordo-me de ver na televisão o célebre programa de Vitorino Nemésio "Se Bem me Lembro", mas só muitos anos depois li o livro "Mau Tempo no Canal", de que gostei muito. Dos poemas que nos oferece, tocou-me especialmente o que se intitula "A Concha".
ResponderEliminarBom domingo.
Meu querido Professor de História da Cultura Portuguesa! Que me deu a conhecer Fernando Pessoa; que era tão sabedor de tudo; que era tão sensível ao ponto de dizer numa oral: «Não se ponha a chorar, senão ponho-me eu aqui a chorar também...»; que nas aulas, como Anfiteatro I cheio até à porta falava de tudo e uma pessoa não conseguia tirar uns apontamentos de jeito; que.. que.. que... Estaria a qui o resto da noite a lembrar episódios. Adorei o «Mau Tempo no Canal» e o livro de memórias da Margarida Victória (em dois volumes)
ResponderEliminarBeijinhos açorianos...
muito oportuno recordar aqui Vitorino Nemésio que foi um excelente professor, intelectual, poeta e escritor.
ResponderEliminarbeijinhos
:)
Com este belo canto em poema acende uma vontade de conhecer, o que nossa mente vai construindo com a leitura.
ResponderEliminarUma bela apresentação deste poeta e apresentação de um lugar maravilhoso.
Valeu Majo.
Bjs.
Como me lembro dele e das suas aparições na televisão, Majo.
ResponderEliminar~~~~~~~~~
ResponderEliminarMEUS QUERIDOS AMIGOS, MUITO GRATA POR TEREM PARTICIPADO, ABRILHANTANDO
ESTA PÁGINA DE MEMÓRIA DEDICADA A UM DOS NOSSOS ILUSTRES INTELETUAIS.
ACONSELHO A LEITURA DO REGISTO DA GRAÇA SAMPAIO QUE FOI SUA ALUNA E
O RECORDA SEMPRE COM MUITA EMOÇÃO E SAUDADE.
A TODOS, ABRAÇOS CORDIAIS, ESPECIAIS PELA SINTONIA.
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Gostei de recordar!
ResponderEliminarBj