... Um toque de sensualidade e humor saudáveis ...
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Quem observa esta fotografia tirada na Figueira da Foz, possivelmente de 1940
- no inicio da segunda guerra mundial - verifica de imediato, a relação
da maioria das pessoas com a praia.
Adolfo Rocha casaria com Andrée Crabbé nesse ano.
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«O mar. Mal cheguei, mergulhei nele. Vinha abrasado de calor e de saudades.
Os que falam do meu telurismo, nem imaginam o meu fascínio pelas ondas.
Nasci, de facto, em terra firme. Mas sou anfíbio, carnal e espiritualmente.»
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Oura, 1 de Agosto de 1987 - Diário XV
Praia de S Pedro de Moel
... PRAIA ...
Nem mar, nem terra - a estrema que os separa
Esta orla de areia
Onde, feliz, passeia,
Só vestida de sol,
A nudez dos humanos,
Um limbo de brancura e de alegria.
O tempo sem poder fazer seus danos,
E nenhum rasto ao fim de cada dia. m
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~~ Miramar, 1957 ~ Diário VIII ~~
Este é um dos poemas mais eróticos do digno e honrado médico.
Coloca o eu poético como um Apolo virgem, em total despojamento,
colhendo os prazeres da praia, das cores, da frescura, das ondas...
~~ ODE ~~
Eis-me nu e singelo!
Areia branca e o meu corpo em cima.
Um puro homem natural e belo,
de carne que não peca e que não rima.
*
A linha do horizonte é um nível quieto;
As velas, de cansaço, adormeceram;
E penas brancas, que eram luto preto,
Perderam-se no azul de onde vieram.
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Sol e frescura em toda a praia
Onde não pode haver agricultura;
Esterilidade limpa, que não caia
De pão e vinho a cósmica fartura.
*
Dançam toninhas lúdicas no céu
Que visitam ligeiras e felizes;
Uma força sonâmbula as ergueu,
Mas seguras à seiva das raízes.
*
Nem paz, nem guerra, nem desarmonia;
O sexo alegre, mas a repousar;
Em pleno, largo e caudaloso dia,
Sem horas e minutos a passar.
*
Vem até mim, onda que trazes vida!
Soro da redenção!
Vem como o sangue de outra mãe pedida
Na hora de dar mundo ao coração.
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~~ Odes - 1946 ~~
Praia do Cabedelo - Figueira da Foz
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Fontes das fotoA
O mar da Figueira convida a isso. Parece que nunca chegamos à água pelo longe que se encontra: que língua de areia!
ResponderEliminarNunca me deixei apaixonar por essa praia, mas gosto muito de São Martinho do Porto.
O poeta, um dos grandes,
Abraços de vida, querida amiga.
Sempre gostei de Miguel Torga. Os seus contos denotam a sua dedicação pelas pessoas pobres, as suas experiências rurais.
ResponderEliminarBom fim de semana, Majo.
: )
Um belíssimo poema de Torga, diferente da maioria que conhecia. Não conheço a Figueira da foz, onde fui uma única vez há 50 anos. Conheço S. Martinho do Porto onde ainda estive há dois anos.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Agosto
ResponderEliminarUm belo Torga
e um post cheio de bom gosto
Muito interessante. Como sempre.
ResponderEliminarNão conhecia este poema. Belíssimo.
ResponderEliminarE sobre o Algarve, dizia Torga que era sempre um dia de férias na pátria... :)
Adoro o Torga e o mar também!
ResponderEliminarbj
Momento indescritível, Majo em leituras, novos conhecimentos e aprendizados e música como trilha sonora! Obrigada!
ResponderEliminarAbraço.
Merecida homenagem a um grande escritor.
ResponderEliminarGostei muito.
Majo, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijo.
Miguel Torga. A praia da Figueira da Foz. A música. Tudo em concordância com o meu gosto. Torga, como já tenho dito, foi o meu primeiro amor na escrita. A Figueira da Foz é a terra onde nasci, em casa como era costume na época. O mar era então mais bravo. No inverno invadia a marginal... Fez-me saudades desses tempos em que comecei a ler Miguel Torga, fascinada com a postura do homem e do escritor...
ResponderEliminarUm bom domingo, minha Amiga Majo.
Torga - Médico, escritor, poeta! O seu casamento com uma estudante belga, que conheceu num "Erasmus" daqueles tempos, teria sido o grande amor da sua vida.
ResponderEliminarRelembrar estas belíssimas praias portuguesas é sempre um prazer. Mas há uma,
São Pedro de Moel, que para mim tem um significado especial.
Uma bela homenagem ao grande poeta! Bons dias de praia!
ResponderEliminarUm telúrico, mas um Homem completo. Este aspecto não o impedia de saborear a beleza do mar.
ResponderEliminarOs Homens grandes são assim: inteiros.
Abraço.
Presença assídua na Baixa de Coimbra (tinha o consultório no Largo da Portagem), amigo do meu padrinho, não era um homem muito sociável.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Madrinhamiga
ResponderEliminarTambém tive ao privilégio e a honra de conhecer Torga no seu consultório de Coimbra. E também uma parte de sorte (porquê ignora-lo?) A sorte não espera por nós ali na próxima esquina; é preciso procura-la.
Neste momento muito difícil por que estamos a passar fez-nos bem a tua presença e as tuas palavras. És uma AMIGA nem grande nem pequena, és apenas uma AMIGA querida Madrinha
Bjs da Raquel que não conheces, tampouco a mim temos de nos encontrar muitos qjs do afilhado Leãozão
Bela apresentação Majo, que lindeza de poetizar inspirado neste mar.
ResponderEliminarValeu amiga.
Uma semana linda para voce.
Bjs
Saborosos e sensíveis escritos do Médico da Poesia. A sua menor sociabilidade perde-se nos Versos. Partilhar estes Poemas é como que um alongamento na extensão da vida.
ResponderEliminarParabéns, Majo.
Beijo
SOL
Estive a reler e fiquei muito sensibilizada por terem apreciado recordar
ResponderEliminarou tomar conhecimento de outra faceta deste poeta que toca o coração de
todos que se expressam na Língua Portuguesa.
Fico muito grata pelo incentivo.
Abraços cordiais.
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O mar ou praia sempre dá belas inspirações...
ResponderEliminarÉ uma leveza que traz o infinito para dentro de cada um de nós.
Quando vejo uma imensidão de água; penso na criação do mundo.
Abraços.
janicce.
O nosso Torga... É comum identificá-lo como um ser telúrico, facto que pode ser redutor para quem não conhece a largueza temática da sua produção literária. Parabéns por teres trazido, de forma brilhante, o seu lado marítimo.
ResponderEliminarBjo, Majo :)
Acho que é mesmo essa sensação que o mar me passa... a de trazer mundo ao coração...
ResponderEliminarUm post formidável... que adorei apreciar nesta zona, à beira mar, aqui na Ericeira...
Como sempre... um conteúdo de excepção! Parabéns, Majo!
Beijinho
Ana
Estou a dar a volta e prometo voltar a este trabalho.
ResponderEliminarBj.
Figueira, que foi de finas areias, mar de sereias...
ResponderEliminarHoje, um esqueleto...
Beijocas
Li e vi. E recordei das minhas leituras o artista, como tantas vezes se considerava Torga nos seus Diários, o autor mais virginalmente português.
ResponderEliminarEsplêndido trabalho, Majo.