Manuel Bandeira escreveu este poema na Suiça, em 1913,
durante a sua estadia no Sanatório de Clavedel.
Aos 27 anos, não tinha idealizado para si uma carreira de escritor, porém
optou por compor poemas como forma de terapia ocupacional.
Regressou ao Brasil em 1914, com o início da 1ª Grande Guerra.
Foi em 1917, que publicou a sua primeira obra - A Cinza das Horas.
Os poemas são escritos dentro da prática habitual no Brasil
dessa época - o estilo parnasiano-simbolista.
Este poema não tem nada a ver com o impressionismo, porém é seu coevo,
pois o novo conceito artístico já estava consolidado em Paris, Londres e USA.
Penso que a música também impressionista de Débussy, combina perfeitamente...
Embora assaz melancólico, o poema termina com uma nota
de muita esperança que o torna belíssimo; dentro do seu estilo.
E o outono e a nostalgia fazem parte da vida...
... Crepúsculo de Outono ...
******************************
|
Claude Monet - Automne sur la Seine - 1873 |
O crepúsculo cai manso como uma bênção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito...
As grandes mãos da sombra evangélica pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.
|
Auguste Renoir - Le pont d'Argenteuil en Automne - 1882 |
O outono amarelece e despoja os lariços
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.
|
Claude Monet - Antibes vu de Salis Jardins - 1877
|
Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a brancura inânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.
|
Camille Pissarro - Automne à Eragny - 1899 |
Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale... o horizonte purpúrio...
Consoladora como um divino perdão.
|
Alfred Sisley - À Saint Martin - 1874 |
O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.
|
Camille Pissarro - Automne, Peupliers, Eragny - 1894 |
A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.
|
... Edgar Degas - Paysage sur la mer ...
|