Alda Lara nasceu na cidade de Benguela, Angola, ano de 1930.
Em Lisboa, acabou o curso secundário e ingressou na faculdade, porém, foi em Coimbra que concluiu o curso de medicina.
Faleceu em Angola aos 32 anos, com obra inédita. Foi seu marido que a compilou e publicou.
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Tendo terminado o seu curso secundário no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, Alda Lara iniciou o curso de medicina e frequentou a Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, onde participou ativamente na animação poética de saraus e tertúlias.
Depois de umas férias em Angola, a poetisa casou-se com um colega de medicina, Orlando de Albuquerque, natural de Moçambique, que também veio a ser escritor. Mudaram-se para Coimbra, onde nasceram os seus quatro filhos.
Apraz-me saber que esta inteletual angolana, desenvolveu profundo asco pela política e ideais guerrilheiros, afirmando-se pertencer a um centro (político). Abominava projetos violentos e a avidez e sede de poder. Todos os seus esforços tiveram o objetivo de desenvolver o sentimento de angolanidade - que não existia minimamente entre as várias etnias - atender aos cuidados de saúde e elevar cultural e socialmente o povo angolano.
))))))))) o (((((((((
Apraz-me saber que, tal como este casal, houve inteletuais angolanos que idealizaram uma forte luta pacifica pelos seus direitos e liberdade, conquista essa que pouparia o povo de 40 anos de guerra violenta, - 13 de guerra colonial e 27 de guerra civil - e da atual vergonhosa oligarquia que domina um povo amedrontado, ainda a emergir da miséria física e mental.
Escrito aos 18 anos, em Lisboa, o poema fala de saudade e da dificuldade de adaptação.
... Regresso ...
«Quando eu voltar
Que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu vida e amor
para voltar...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Voltar...
Ver de novo baloiçar
a fronde majestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia
circundam de magia...
Regressar...
Poder de novo respirar,
(oh!... minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o humus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar
numa alegria selvagem
com o tom da tua paisagem,
que o sol
a dardejar calor
transforma num inferno de cor...
Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monótono, igual,
do casario plano...
Hei de ver de novo as casuarinas
a debruar o oceano...
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão...
não mais estes ruídos...
Os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo
e o silêncio envolve tudo.
de tons quase irreais...
Saudade... Tenho saudade
do horizonte sem barreiras...
das calemas traiçoeiras,
das cheias alucinadas...
Das batucadas
que eu não via,
mas pressentia,
em cada hora,
soando pelos longes, noite fora!...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Sim, eu hei-de voltar
Que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu vida e amor
para voltar...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Voltar...
Ver de novo baloiçar
a fronde majestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia
circundam de magia...
Regressar...
Poder de novo respirar,
(oh!... minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o humus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar
numa alegria selvagem
com o tom da tua paisagem,
que o sol
a dardejar calor
transforma num inferno de cor...
Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monótono, igual,
do casario plano...
Hei de ver de novo as casuarinas
a debruar o oceano...
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão...
não mais estes ruídos...
Os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo
e o silêncio envolve tudo.
Sede... tenho sede dos crepúsculos africanos,
todos os dias iguais e sempre belos,de tons quase irreais...
Saudade... Tenho saudade
do horizonte sem barreiras...
das calemas traiçoeiras,
das cheias alucinadas...
Das batucadas
que eu não via,
mas pressentia,
em cada hora,
soando pelos longes, noite fora!...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Sim, eu hei-de voltar
tenho de voltar,
não há nada que o impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana...
Em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa.
não há nada que o impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana...
Em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Ah... quando eu voltar...
Hão de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente
há de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme
de poder dizer:
Voltei!»
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Alda Lara - 1948
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Alda Lara - 1948
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Conhecida de nome, não a conhecia como poeta. Interessante.
ResponderEliminarCurta vida, bela poesia!
ResponderEliminarbeijinho
Um post de extraordinária beleza, que me deu a conhecer uma autora que desconhecia por completo...
ResponderEliminarMagnifica partilha, Majo!
Beijinhos! Bom fim de semana! Espero conseguir ouvir o video na próxima semana, pois aqui a net é problemática...
Ana
Não conhecia, mas gostei muito! De como cada um de nós, com a nossa sensibilidade, sente a saudade da Terra que nos viu nascer...que em certa altura, é a melhor do mundo!
ResponderEliminarNão conhecia. Que pena ter partido tão nova! Depois de ter sofrido tanto por terras lusas...
ResponderEliminarBeijinhos
Poesia toda ela perpassada pela nostalgia dos quentes africanos , terra que enfeitiça!
ResponderEliminarNão conhecia, Majo , por isso grata por sair daqui mais enriquecida.
Beijinho
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarNão tenho nenhum livro de Alda Lara. É pena porque gostei muito destes poemas. Cantou Lisboa de passagem com as raízes de África a puxarem por ela. E morreu tão jovem... Obrigada pela partilha, minha Amiga Majo.
ResponderEliminarUm beijo.
Gostei dos poemas que escolheste da poeta.
ResponderEliminarMajo, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Olá Majo
ResponderEliminarQue lindas palavras desta poeta que não conhecia...
Aliás, o por do sol em Benguela deve ser magnífico, assim como as árvores floridas de múcua!!!
Um lindo domingo!
Bia <º(((<
Querida Majo, não conhecia Alda Lara. Espero que a sua curta vida tenha sido intensa e bela como a sua poesia.
ResponderEliminarUm beijinho e votos de um domingo repleto de música e poesia :)
✿゚ه° ·.
ResponderEliminarMuito linda, muito lírica, amor incondicional à terra natal.
Fez-me lembrar Gonçalves Dias na poesia Canção do Exílio.
Maravilhosa escolha!
Boa semana, com tudo de bom!!!
Beijinhos.
🌿🌾
Adorei conhecer!
ResponderEliminarBenguela é uma bela cidade!
Bj
~~~
ResponderEliminarTEM RAZÃO, QUERIDA MISS SMILE, ALDA LARA TEVE UMA VIDA CURTA, MAS INTENSA E FELIZ.
VOLTAREI A FALAR DELA, POIS A SUA POESIA EMOCIONA-ME.
AGRADEÇO A TODOS QUE CONFIARAM NO MEU GOSTO E DISPUSERAM-SE A OUVIR ESTE POEMA - EM
GÉNERO DE ODE - QUE SUBLIMA A BELEZA TROPICAL E ESPECIAL DESTA CIDADE DO LITORAL SUL-
ANGOLANO.
GRATA A TODOS PELO REGISTO DA VOSSA OPINIÃO.
DIAS DE UM OUTONO ILUMINADO. ABRAÇOS CORDIAIS.
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Poesias de grandes e profundos sentimentos.
ResponderEliminarOs "sabores e odores" de África cravam-se na Alma.
Beijo
SOL
Que lembrança, evocar Alda Lara!!!
ResponderEliminarMuita gente nem sequer sabe do nome.
Parabéns, Majo.
Amiga: já tinha lido a tua partilha no TM mas esperei ter um tempinho calmo para deixar um testemunho.
ResponderEliminarTomei contato com a poesia da Alda Lara, através de um ótimo programa de rádio (rádio Vizela) da responsabilidade de Conceição Lima, que ouço semanalmente à 4.ª feira, pelas 21H, a "Hora da Poesia", no qual divulga autores de hoje, desconhecidos (eu já fui ao programa) e grandes vultos, preferencialmente aqueles que estão mais esquecidos. No final, produzo sempre um comentário; infelizmente, aquando da Alda Lara, ainda não tinha o hábito de guardar em documento o que escrevia.
Nesta tua feliz partilha, deixo-te os parabéns pela escolha dos poemas, são representativos da sua obra. Foi um deslumbramento conhecer a sua poética. Curiosamente, recentemente, numa apresentação de um livro, na minha cidade, estava presente (por razões de amizade com a autora) o filho, João Lara. Tivemos uma agradável conversa, como podes imaginar. Fiquei a saber que o marido deixou os direitos de autor à APPACDM de Braga, onde se pode também encontrar a sua obra.
Uma obra fabulosa, um pensamento avançado para o seu tempo.
BJO, Majo :)
Um belo grito para um povo sofrido e massacrado. Já segui vários blogs de Portugueses que falavam e Benguela e este nome me soa familiar Majo. Não tinha lido esta postagem, Namibiano Ferreira. Venho pela postagem atual sobre Alda.
ResponderEliminarMuito boa partilha querida Majo.
Bjs